quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Início

Fui criado no monte, desde cedo aprendi a andar no meio do tojo. Aprendi a caçar, tirar vida com as próprias mãos, a criar para matar a seguir. Diziam que me faria um homem. Aprendi a pescar de cana e pau na mão, até mesmo a arrancar as guelras com as pontas dos dedos. Aprendi a sarar as feridas no monte com banhos de folhas de eucalipto e a chorar para dentro a dor de cada picada. Estes extremos de aprendizagem, desde a liberdade e alegria dos vales sem fim até à dor da finitude de todo esse viver. Fez de mim capaz de querer mais e melhor, da alegria à tristeza, da ignorância à sabedoria, do mar às montanhas do pólo sul ao pólo norte. Fez-me querer saber o mundo, do início ao sei fim.