quinta-feira, 26 de abril de 2018

(...)

Lembraste-me meu amor que tudo poderia dar certo e o que poderia evitar. Passaste por mim como seu não fosse reparar nesse teu ar de raposa sagaz entre o uivar dos lobos e o chirriar das corujas. Fizeste-me lembrar o quanto pequeno fui e sou à tua beira, pela grandeza do teu ser, doçura no olhar e o brilho do teu sorriso. Passaste altiva e voltaste a fazer-me sentir vulnerável, sem saber o que dizer ou o que pensar. Voltei a sentir o coração a sair pela boca e a querer controlar o incontrolável. Obrigado pela insónia e pelos sonhos mirabolantes. Continuo o cobarde que não te pede desculpa!!!

AC

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Primavera

Vulgar acontecimento aos olhos de quem passa
De quem passa com o coração vazio
Vazio de cor, vazio de saudade, vazio de ambição.

Beleza inata de cada botão que abre
Abre a cor da mais bela flor
Flor de um olhar, flor de um sorriso, flor de vaidade.

É o vento que passa, o ar que corre
Corre de norte a sul, de este a oeste quente
Quente no pensamento, quente no coração, quente de quem sente.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Vulgo Vulnerável

A forma de amar e ser amado,
o frio que corre no corpo
a distância que é certa
entre o ventre de uma mãe
e o os braços de um filho

A vida que é refeita
entre caminhos certos
e estradas sem sentido
os pensamentos vagos
as crenças pagãs

As amizades sentidas
as vidas perdidas
as emoções caídas
versões de ti erradas
pessoas mal amadas

Restas tu
com o coração partido
por alguém que nunca tenha vivido
a verdadeira forma de amar
Esse que se comportou com medo 
do sentimento mais puro de olhar
O verdadeiro sentido da vida. 
VULNERÁVEL

AC

sábado, 31 de março de 2018

Roberta Sá, António Zambujo e Yamandú Costa | "Eu Já Não Sei"

És a Tela

És a cor da ponta de um pincel.
És as formas de sentir e amar.
Não paro de pensar no que poderás estar a fazer neste momento.
Sei ainda de cor a altura da tua janela, o comprimento do postigo.
Ainda sinto a tua pele arrepiada na ponta dos meus dedos.
Que a cada curva e lugar certo te fazem sorrir durante esse teu olhar profundo e terno.
És ainda as mãos esguias e geladas que completavam o meu rosto.
As mãos que são ainda sinónimo de que o meu sol ainda não está posto.

AC

domingo, 18 de março de 2018

Versos

Sinto o peso das palavras que escrevi e não tive vontade de as falar, são sinceras meu amor e são para ti. 
Por vezes fogem de amar, nestas noites frias ao cantar. 
Solto as cordas e o bordão, com mais força as toco para que as sintas de bem longe no coração.
Trocando o teu amor por algo menor, àquilo que a distancia diz à lua sobre o nosso bailar. 

Cada nota que te canto é tão honesta quanto os gestos do teu puro amor. 
O sorriso e a alma desse teu abraço que acalma este intruso do teu corpo que fica sem pudor. 
Do outro lado do rio adoramos a extensa marginal, beijada pelo casario que um dia será o nosso punhal. 
São versos soltos que escrevo pela confusão que nos diz, que o nosso amor ainda é um pequeno petiz.

 AC

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Início

Fui criado no monte, desde cedo aprendi a andar no meio do tojo. Aprendi a caçar, tirar vida com as próprias mãos, a criar para matar a seguir. Diziam que me faria um homem. Aprendi a pescar de cana e pau na mão, até mesmo a arrancar as guelras com as pontas dos dedos. Aprendi a sarar as feridas no monte com banhos de folhas de eucalipto e a chorar para dentro a dor de cada picada. Estes extremos de aprendizagem, desde a liberdade e alegria dos vales sem fim até à dor da finitude de todo esse viver. Fez de mim capaz de querer mais e melhor, da alegria à tristeza, da ignorância à sabedoria, do mar às montanhas do pólo sul ao pólo norte. Fez-me querer saber o mundo, do início ao sei fim.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Perdão

É agora ao ouvir o sofrimento de alguém próximo que finalmente, ouço o teu sofrimento. Vem tarde. O ouvir é apenas o primeiro passo. O passo que se dá para dentro de um poço à qual eu tirei a luz. Pouso os pés num fundo seco e vazio, tiro a venda e apenas vejo pedras negras carregadas de lágrimas, musgo de cor verde morto, olho para cima e não vejo luz. Para ver isto tudo é preciso luz, talvez seja a luz da esperança de um dia te encontrar e pedir desculpa por ter retirado a tua luz, o teu brilho de sol quente e radiante.
Procuro encontrar uma explicação plausível, várias até, para o que aconteceu e só encontro balelas. Tudo bem que muitas das minhas vivências me levaram a ser inseguro e errante na minha maneira de amar. Até mesmo aquela vontade louca de viver, que tu elogiavas e adoravas, me levou a querer explorar mais. A vida, os seres e os seres a viver a vida. Não percebendo que a única coisa que valia a pena, eras tu e o nosso amor. Mas isso não é desculpa. É apenas uma aprendizagem para que num dia em que eu volte a conseguir amar, não volte a magoar.

AC

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

(...)

Onde estás tu alma invencível 
Onde estás tu vontade de agarrar as pedras da calçada 
Qual vontade de viver indomável 
Qual sentido de perseverança 

Com toda esta vontade de ser e não ser 
De querer seguir com escudo ao peito e espada em punho 
Esta armadura falsa que carrego 
Foi tão leve no início e tão pesada agora 

Crias ansiedade nos dias que correm 
Quando no passado eras evitada, como falso presságio de futuro 
Esses tentáculos que agarravam tudo 
Com apenas um objectivo, 
A realidade que não tardava em chegar